sábado, 6 de dezembro de 2008

Por Paola Zordan - Texto elaborado para mesa Poéticas da arte na educação contemporânea - I Colóquio Pedagogia da Arte, FACED/UFRGS




Ovo. Ponto zero. Corpo sem órgãos. O dito e tanto redito. Cortado e superficial. Um corpo cuja existência não é outra senão a produção de arte. Uma bricolage. Selecionada por uma objetiva e registrada de acordo com a exposição da luz. Ampliada por lentes. Reproduzida em pixels. Vista como imagem.
Feliz é quem não precisa de uma imagem para se saber artista. Fazer arte é algo muito diferente daquilo que se preconcebe. É uma questão de VIDA, não de exibição. Implica um produzir que pouco se coloca em produtos e exposições, mas sim faz espaços. Espaços para viver. Lugares de estar junto.
Uma mesa é um lugar de estar junto. Uma mesa é um palco? As pessoas que estão nela são atrizes, performers, bailarinas, musicistas? Doutoras. Professoras? Mediadoras? Interlocutoras? Apresentadoras? Painelistas, é essa a imagem que se faz. Figuras aqui desta casa, da casinha aqui perto, da casa avizinhada, de outro lugar do país. Estamos todas aqui. Todos que aqui estão morrerão um dia. Evitar a morte é o motivo da poética. Se colocar numa obra, conservando imagens, é o modo que os humanos encontram para se manterem eternamente vivos. Viver eternamente é a maneira que nós achamos para nunca deixar morrer nossas paixões.
Não erguemos megalitos, não inventamos pirâmides, não construímos catedrais. Uma vez professores, nossa obra é aquilo que repercute em nossos alunos, de geração em geração. São eles, individualmente ou em grupo, a razão de tanto trabalho sem aparente produto. Suas vidas, sucessos, alegrias, realizações compõem a obra coletiva de um currículo feito por muitas e controversas cabeças. Uma hidra. Um monstro. Aglomeração sem outra finalidade além de compor. Algo que se mostra sem fins didáticos, mas com a mais desejosa das intenções.
E que intencionamos com a poética, é colocar o amor em criação.
Pois é sempre de um corpo amado, às vezes paradoxalmente odiado e perturbador, que a imagem trata. Para estudar o corpo em questão, o desejo precisa virar conceito. Criação para povoar o pensamento, o que é concebido traça o plano em que toda imagem devém. Sem plano nada se conquista. O que precisamos conquistar é aquilo que amamos. Temos amor por algumas imagens não porque elas representam os corpos amados. Amamos as imagens que erguem esse corpo e fazem dele matéria instalada no coração. O coração é só mais uma imagem. Cheia de alvos, indicações, indícios, desperdícios, malefícios e besteiras. O que cabe nessa imagem que nos é tão cara, depende de quem a evoca. E o que, junto ao coração, esse ultra clichê da cristandade hoje travestido em romantismo leigo para consumo, pode ser invocado, é justamente o que vai dar cara para nossas imprescindíveis paixões.
Uma imagem não afirma nada. Uma imagem pode estar cheia de significados. Se ela inscreve coisas além do que o olho vê, a culpa é dos clichês. Romper com os clichês é se aventurar em criações. Sem garantia alguma de que algo diferente aconteça. Porque o quadro negro, as vagas, os espaços vazios, a folha em branco, tudo isso está cheio de clichês: observação de Deleuze em suas incursões filosóficas sobre pintura.
Criamos com alusões. Ilusão é acreditar nas imagens, essas criações do pensamento que extrapolam a visualidade. O que identificam, o que representam, o que querem dizer: o que isso importa para quem com as imagens se ocupa? Imagens comportam mundos. Com imagens montamos paisagens. Aglutinamos preferências e juntamos o que nos interessa. Fixas e efêmeras, as imagens são figuras que povoam o pensamento. Fugidias e perenes, sempre tiradas daquilo que na vida aparece.
5 minutos de leitura oral
Nenhuma paisagem permanece eterna. A visão se esvai. Como o corpo, que por mais que permaneça, de algum modo se acaba. Trazer imagens não garante a conservação do que elas implicam. Fazer desaparecer, de algum modo, é excessivamente mostrar. Vista em excesso, qualquer imagem deixa de ter força. Por mais re-apresentada que seja. Ainda que insistentemente se propaguem, imagens não são feitas, necessariamente, para atrapalhar. Mas podem causar transtornos. Pois se colam em discursos, tabus e complicados afetos. Aspectos indissociáveis em um mesmo plano de expressão. Obviamente ideológicas, educam. Se não percebemos os clichês colados numa imagem o olho não tem nada a ver com isso.
6 minutos e 10 segundos
O olho é apenas o ponto de passagem. O que o cérebro faz com aquilo que o olho captura é o que dá para as imagens o estatuto que os estudiosos contemporâneos tanto trazem em suas falas. Classificar e interpretar imagens: ocupação acadêmica estabelecida. Trabalho que sobrepõe nas imagens codificações que, necessariamente, algumas imagens não têm. O problema não é esse procedimento, mas sim deixar de trabalhar com tudo o que a imagem não identifica. O que na imagem, não pode ser codificado. Com tudo o que, numa imagem, move o pensamento.
7 minutos
Desejamos imagens não pelo que elas representam e sim pelo movimento que elas produzem nos corpos. Todo amor não passa de um decalque muito bem sucedido entre uma imagem criada subjetivamente e um corpo, preferencialmente experimentado no físico. Apaixonamos-nos quando as criações nos tiram do lugar. Se depois canonizam certas figuras e determinadas paisagens, foi porque a paixão que ergue um corpo-figura-paisagem em imagem mobilizou imensidões. Sem dúvida queremos imagens nas quais possamos nos colar. Mas, acima de tudo, as imagens queridas são aquelas cujos recortes voam além dos enquadramentos. Molduras, quadros, monitores e todo tipo de dispositivos quadrangulares nos quais a cultura as circunscreve.
8 minutos e 7 segundos
Mais do que imagens, queremos paixões. Se o pathos só pode se erguer como obra se valendo de imagens, isso não demanda tanta conversa sobre elas. Melhor seria simplesmente fruir da natureza das figuras, das cores, das abstrações, das massas e das junções. Mas, para sustentar o sentido dos corpos apresentados somente pela via da linguagem, como estamos acostumados a nos valer, fica-se sob o jugo de gramáticas muito mais estreitas do que a plasticidade da poesia em si. Por isso, toda essa falação. Tanta coisa escrita, necessidade de leituras e explicações. A neurose interpretativa não suporta o silenciar inconsciente que toda e qualquer imagem tem.
9 minutos e 5 segundos
Amanhecemos. Sem peles, só imagem. Gozamos largando as palavras. Buscando flashs da eternidade, mas efetivamente vivendo os matizes lentos do crepúsculo. Num novo corpo. Esse que intensamente um encontro cria. Nunca o mesmo encontro. Porque os corpos se reinventam. E, mais do que de imagens, precisam uns dos outros. Entretanto, imagens são corpos. Que dificilmente são zerados, pois são númens e nomes. Cheios de fluxos inclassificáveis e impossíveis de serem numerados, somente quantum que em nenhuma tabulação pode expressar. As imagens são o quanto de prazer um corpo é capaz de suportar.
10 minutos e 18 segundos, ultrapassei meu tempo
Imagens proliferam. Quem cria faz delas o que quiser. Quem cria reinventa a imagem e a torna diferença. Se isso incomoda é porque até a mais banal das imagens estranha a si mesma e a toda a discursividade que contém. Continente, a imagem não pode ser apartada do desenho. Substancial, a imagem pinta.
10 minutos e 45 segundos, ai ai, ai
Zerar a imagem não é calar. Apenas esquecer tudo o que ela supostamente trata. Olhar por olhar, não para entender o tratamento que o texto envolve, mas sim para se apaixonar. Arriscar o corpo em tudo o que a superfície oferece. No plasma e no cristal líquido gosmas são anunciadas. Fantasias, enfrentamentos e encantos. Se não nos apaixonarmos, nenhuma imagem, sempre corpo, tem graça.
11 minutos e 10 segundos
Alguma coisa aconteceu. Anoitece. Tudo continua igual. O que nos faz provar, tão pequeno lapso de diferença? A vida é sempre a mesma. O dia vem, cai na noite, a cada volta da terra em torno do sol, uma nuance. O que muda está na arte. E a arte apaixona, não educa.
11 minutos e 37 segundos, impossível encaixar pensamento e poética perfeitamente no tempo, cada vez menor em todas as circunstâncias.

I Colóquio Nacional em Pedagogia da Arte

Foi de 3 a 5 de dezembro nosso tão esperado colóquio. Todos, acredito, passamos pelas angústias, criamos nossos monstros internos, nossos medos. Angústias causadas pelos prazos. Monstros noturnos e das horas vagas, que não eram vagas. Medo de não conseguirmos.
Tudo correu bem. Fomos bem felizes, no final das contas. Cada um a seu tem
po. Cada um com um problema a ser resolvido.
O Colóquio foi encerrado com Marcia Tiburi, Nadja Hermann e com mediação de Marcelo de Andrade Pereira, meu orientador, num bate papo sobre Ética, estética, educação e arte. Foi muito bacana.

Agradecimentos aos professores que passaram ou ficaram:

Analice Dutra Pillar
Celina Nunes de Alcântara
Ciça Reckziegel
Elisabete Garbin
Flavia Pilla do Vale
Gilberto Icle
Luciana Loponte
Marcelo de Andrade Pereira
Paola Zordan
Rosa Maria Fischer
Ruth Sabat
Sergio Andrés Lulkin
Vera Lúcia Bertoni

Dani Boff



Oi Adri querida..
 
Tu arrasou ontem hein?
(...)
Apresentei o meu trabalho pro meu vaso de flores, e não consigo saber o que ele achou. hehehehehehehe
 
Beijos

Agradecimentos especiais

Agradecimentos especialíssimos

Ao meu orientador Marcelo de Andrade Pereira pelo apoio permanente.

Ao Rodrigo Núñez pelas fotos, pelas corridas, pelo segurar na mão, pelo Amor, pelas bagunças, pelas generosas partilhas, pelo colo, por tudo na vida.

Ao meu pai, a minha mãe e minha irmã pelo ensino do "compartilhar a partilha", pelo Amor incondicional, pelas histórias todas.

A Regina Veiga, Jener Gomes, Gwoene e Debora Fleck pelas fotos documentais.

A Claudia Paim e Claudia Zanatta pelo vídeo.

A todos que contribuíram como puderam ou como souberam.

Referências de cabeceira

BRETON, Philippe. Elogio da palavra.Loyola, São Paulo: 2006.

CÂNDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. (p.13 – 49) Rio de Janeiro: Ouro sobre
Azul, 2006

GUELMAN, Leonardo. Brasil tempo de gentileza. Niterói: EdUFF, 2000

LARROSA, Jorge. Linguagem e Educação depois de Babel. Belo Horizonte:
Autêntica, 2004.

RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível. São Paulo: Editora 34, 2005.


www.anateixeira.com


MOURÃO, Mara. Doutores da Alegria – o filme. Brasil, 2005, cor.

Antônio Augusto Bueno

Em tempos de seca de gentileza espero que teu trabalho
continue jorrando cada vez mais gentileza.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Cristiano Scotta

Oi Adriana,

Desculpe a demora, estou passando pelo encerramento dos preparativos da maior mudança que já realizei. Término de curso, reforma na casa em Porto Alegre, mudança para São Paulo, organizar as coisas em São Paulo (entre reforma do espaço que irei ocupar e papeladas da empresa em que irei atuar).

Entre tantos preparativos, nada me trouxe tanta força e tanta alegria, quanto participar da ação Gentileza naquele breve intervalo do meio dia.Transbordei euforia durante o dia todo, e até hoje ao lembrar, sorrio sozinho. Foi muito bom. Bom para todos que estavam ali, para quem doou gentileza e para quem as recebeu.

Aprendi tanto contigo desde minhas primeiras revoltas em pintar quadradinhos, que nem uma enciclopédia de agradecimentos em todas as línguas daria conta de expressar o quão importante tu foi e é na forma como encaro meu trabalho e minha vida.Fico muito contente que sejas a professora homenageada da minha formatura, para mim, não haveria pessoa melhor.

Te agradeço muito por tudo, conte comigo pro que precisar (apenas me diga que é meia hora antes do horário que tu pretende que eu chegue).Pretendo poder encontrar a ti e ao Rodrigo de vez em quando, seja quando eu vier a Porto Alegre, seja quando vocês forem a São Paulo, nem que seja só pra dar um oi, tomar um cafezinho, dar um abraço.

Gosto muito de vocês.

Abração,
Scotta

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Thiago Esser

Cara AD,

Segue o meu testemunho sobre a "ação gentileza"... bobo como eu.

Uma vez eu tinha trabalhado naquela sinaleira, a da Av. Paulo Gama, só que não era como dadante, e sim como pedinte. A gente precisava reunir uma grana pra viajar pro Rio, na Bienal do Estudantes de 2007. Conseguimos. O interessante é que as reações, nos dois casos, foram as mesmas. Alguns não queriam nem saber, e outros adoraram e foram muito simpáticos. Alguém poderia até dizer: "se gentileza fosse bom, a gente não dava, vendia." Mas não é verdade, porque tem gente que não quer gentileza NEM DE GRAÇA. Moral da história: gentileza não é uma questão de etiqueta, de nível cultural ou social, mas sim um estado de espírito. Fui! deitei o cabelo!
Bjo,Thiago

Jener Gomes

Oi Adriana, Essa foto é de domingo, num táxi com ponto na Caldas Júnior.E a seguinte é da agenda do Cajú 2, ontem, no bar do IA.Um beijo, Jener


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Rodrigo Chaves

Oi, Adri, escrevi um pequeno paragrafinho sobre a experiência de entregar os adesivos do Gentileza Gera Gentileza. Não é muita coisa, mas é a impressão que eu fiquei.
Bjs
Rodrigo

Para mim, distribuir algo na rua sem absolutamente nenhuma segunda intenção foi uma experiencia nova. Já distribuí panfletos, mas eram de propaganda, com uma intenção completamente diferente de distribuir os adesivos com o “Gentileza Gera Gentileza”. Distribuir os adesivos são como um ato de gentileza realmente deve ser feito, sem esperar nada em troca. O interessante é que, assim como isso foi uma experiência nova para mim, parecia ser uma experiência igualmente nova para muitas das pessoas que recebiam os adesivos. As reações variavam, e essa foi a parte mais interessante de observar. Algumas pessoas nem olhavam o que pegaram, outras ficavam curiosas com aquilo e perguntavam, alguns pediam mais adesivo e outras ainda queriam saber onde comprar as camisetas. Ou seja, as reações das pessoas são iguais à quando se faz alguma gentileza, algumas pessoas nem se dão conta de que estão recebendo, e outras querem mais, mas a maioria demora para entender o que está acontecendo. Realmente as pessoas não estão mais esperando por atos de gentileza.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Cláu Paranhos

GENTILEZA GERA GENTILEZA

A luz do semáforo fica vermelha.
Corro para os carros.
Tenho, estampada no peito, uma mensagem: “gentileza gera gentileza”.
E, nas mãos, um punhado de adesivos com a mesma mensagem.
Por dentro, um montão de emoções: medo, ansiedade, alegria...
Nas veias, adrenalina.
Percebo, no primeiro momento, o tempo: pouco tempo!
A luz do sinal fica verde e ainda estou imersa em emoção, no meio dos carros.
Quero continuar!
Mas preciso correr para a calçada novamente.
“Gentileza gera gentileza!” e a maioria das pessoas sorri, meio sem graça.
Umas poucas sorriem felizes e receptivas.
Têm medo.
De violência, de assalto, de que eu queira algum dinheiro.
Algumas não abrem o vidro do carro.
Ou abrem uma frestinha, por onde coloco o adesivo e digo feliz:
“gentileza gera gentileza”!
Sorrio.
Não que eu queira ou planeje.
Meu corpo inteiro sorri!
Fico genuinamente feliz por participar de uma ação para o bem.
Queria que o mundo inteiro fizesse isso, em todos os lugares!
Queria poder dizer “gentileza gera gentileza” para cada pessoa que habita esse mundo!
E que elas ouvissem.
Porque, algumas, balançam a cabeça negativamente, encerradas no seu carro.
Recusando qualquer espécie de emoção.
Com os vidros e o coração fechados.
Aceito. E sigo para o próximo espírito que esteja disposto a existir.
Quando os adesivos acabaram, acabou também a minha voz.
Sentia-me plena.
Tinha dado o melhor de mim.
E recebido o melhor da vida.


Cláu Paranhos,
Porto Alegre, Novembro/2008.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Carmen Maria Pucci

Um dia qualquer, numa esquina qualquer.

Era uma sexta-feira de um dia de primavera, ensolarado, meio dia mais ou menos.
Eu andava pela calçada rumo à UFRGS, conversando com meus botões e cumprimentando todas as pessoas que passavam por mim, algumas me olhavam com interrogação como a dizer “te conheço?”, mas respondiam e saiam com um sorriso nos lábios, como a pensar, “ta louca a coitadinha”, e eu? eu contabilizei mais um sorriso do dia. Quando faço isso, passo o dia feliz pois recebo resposta sempre, semmmmpre, e um sorriso de volta (seja de quem acha que me conhece mas não lembra, seja da criança, dos adolescentes, do gari, do flanela), mas um em especial me deixou emocionada. Quando saudei uma senhora idosa, que estava na frente de sua casa a espera de alguém, ela me respondeu em alto e bom som “QUE MARAVILHA, VOCÊ FEZ MEU DIA PASSAR DE CINZA PARA AMARELO, COM UM GRANDE SOL A ILUMINAR MEUS CABELOS BRANCOS”, foi lindo e eu saí com lágrimas nos olhos.

Mas voltando à sexta feira. De longe senti que havia algo diferente na esquina da Oswaldo com a não sei o nome da que vai para o túnel. Não era panfletagem comum para compra de AP, conserto de mil coisas, contribuição para todas entidades assistenciais e as faz de conta que são, nem gente esmolando ou importunando os motoristas e transeuntes, mas era sim uma turma em que todos vestiam camisetas brancas, alegres, coloridos, formada de alunos, professores e simpatizantes de uma causa que tem tudo a ver com nosso tempo e que algumas vezes não nos damos conta que um simples gesto, uma simples palavra, um simples olhar muda muito e pode mudar tudo para alguém.

GENTILEZA GERA GENTILEZA

Quando vi, fiquei maravilhada, com uma vontade muito grande de participar, de tornar maior uma semente que a Adriana semeou em todos os e-mails que me mandou, da sua delicadeza e gentileza sempre, sempre, em qualquer lugar. Disposta a ajudar e contribuir para que todos sintam-se bem, preocupada em consolar uma colega emocionada, dando o seu abraço terno de mãe de todos, e ela estava lá, na esquina, junto com o Rodrigo e o pessoal do IA, com uma faixa enorme, amarela escrita com letras vermelhas aquelas palavras mágicas “GENTILEZA GERA GENTILEZA”. Estendiam na frente dos carros cada vez que o semáforo (sinaleira para nós) ficava vermelho. Tinha muita gente entregando as pessoas que passavam nas calçadas e aos motoristas, pequenas tiras com as mesmas palavras.

No início fiquei parada somente olhando, observando a reação das pessoas e mais uma vez tive certeza que podemos mudar esse ranço que está impregnando as pessoas, que na correria do dia a dia, enfrentam um trânsito caótico, problemas no trabalho ou falta dele, tempo escasso para a família, etc e ainda uma imprensa pessimista que só noticia tragédia, crime, fraude, violência gratuita e é conivente de um processo de massificação concreta do ser humano, quando é a favor de obras perniciosas à vida da população, que destroem a natureza e encaixotam o homem, em busca do lucro fácil.

E ali, parada, percebi que pequenas ações, geram reações. Num primeiro momento talvez as pessoas até coloquem fora a tímida tirinha da gentileza, mas tenho certeza que quando escutar ou ver a palavra escrita em qualquer lugar, lembrará desse dia em que uma pessoa lhe entregou uma gentileza com um sorriso.

É claro que houve alguém, e sei que foram muito poucos, talvez não complete os dedos de uma mão, que se recusaram a receber, mas um especialmente, eu vou descrever. A Adriana chegou com toda educação, com um sorriso e estendendo a mão para entregar ao motorista a tirinha e lhe disse (como todos estavam dizendo) “uma gentileza para você”, não pude acreditar que uma pessoa jovem como aquele rapaz fizesse tamanha grosseria. Primeiro balançou várias vezes a cabeça e fechou a janela de forma rápida e com cara de poucos amigos. Fiquei pensando: talvez já tenha sido assaltado “o pobre”, mas ali não estavam assaltantes pois o seu carro esta muito atrás de todos que já tinham recebido a tirinha, alguns que quase jogavam o corpo para fora da janela para ganhar a sua também, e ninguém buzinava de um carro que ficava parado mais um pouquinho para receber a sua. Buzinavam alguns mas para felicitar.

Os transeuntes também ganhavam e alguns se ofereciam para ajudar. Quase todos paravam para ver do que se tratava e saiam felizes com seus sorrisos soltos ao sol e vento fazendo com que essa alegria contagiasse a todos que encontravam pelo caminho.

Também não posso deixar de falar de Três garotas do Colégio militar, uniformizadas com suas boinas vermelhas, meia americana e sapatos pretos. Pararam na esquina e ficaram a contemplar a cena, e nos seus rostos estava estampada a mais genuína expressão de curiosidade misturada com um pouco de perplexidade, foi um momento que poderia fotografar e ganhar um prêmio, pois as meninas tinham a mesma expressão, a mesma postura corporal de quem precisa ir, mas que quer ficar mais um pouco para descobrir o que está havendo.

Chamei a atenção de algumas pessoas que estavam por perto e como todo bom artista também visualizaram um belo quadro. Pena que ninguém conseguiu fotografar.

Em algum momento, o Rodrigo me atirou uma camiseta, para participar, e parece que a simples mudança de uma roupa, nos remete para a frente de batalha, em que nos sentimos uma Joana D’Arc e somo capazes de lutar por aquilo em que acreditamos.

Parabéns Adriana, e a todos que levaram gentileza a muitos.

Carmen Maria Pucci

Débora Balzan Fleck

Querida Adri,

participar do teu projeto também trouxe-me uma imensa alegria! Fico muito feliz em compartilhar desse seu momento tão especial e sensível!

Os fatos provaram (papo de advogado falacioso...), mais uma vez, a lógica de que gentileza atrai gentileza (na maioria das vezes, lógico, afinal toda regra tem exceção)! A prova disso é que conseguiste reunir muitas pessoas muito especiais ao teu redor e ao redor dessa idéia maravilhosa!

Ainda que as exceções marquem mais a nossa memória, jamais esquecerei dessa experiência, que foi única para mim. Sem falar que foi uma ótima motivação para a superação de algumas fobias públicas que tenho em relação ao trânsito e a transeuntes indispostos e intolerantes com a vida e com os seres humanos. Marcou-me, obviamente, aquelas reações mais inesperadas do público frente às gentilezas oferecidas.

Como a abordagem foi praticamente a mesma por todos que estavam ali (e ninguém tinha cara ou postura de "bandido perverso", muito menos de "pedinte oportunista"), a reflexão sobre as reações inusitadas dos que transitavam pelo local tornou-se inevitável.
Realmente, tentar encontrar regras para explicar determinados comportamentos humanos é demasiado desafiador.

Acompanhar a reação da mocinha medrosa diante da proposta, com os vidros completamente herméticos do seu carrinho popular, e até a da madame desligada, com as janelas abertas, por onde escapava o maior pagodão, do seu carrão importado, foi algo surpreendente. Acredito que elas mesmas surpreenderam-se com a oferta da gentileza (e ainda por cima "de grátis!")
O carroceiro, que provavelmente não sabia ler, chegou até a soltar as rédeas do seu sofrido condutor para tentar decifrar aquele enigma junto com o seu co-piloto.

O motorista de ônibus buzinou sem parar, elogiando a iniciativa (será que pensou que éramos uma ong?), enquanto os passageiros se esgueiravam pela janela para capturar mais uma gentileza.

Até o carro forte blindado desamarrou a sua carranca de "caveirão" e aderiu à proposta! Ficou bonitão e sorridente!

O policial civil, embora não deixando escapar sequer uma expressão sentimental do canto do seu bigode, aceitou a gentileza e guardou-a para utilizar em um momento mais oportuno, quem sabe... (seria bem legal se ele colasse no painel da viatura e lesse aquilo toda a vez que recebesse uma notícia pelo rádio da polícia!)

Teve até gente que acenou, gritou, pedindo por favor para ganhar uma gentileza!
Vi de perto muito medo, indiferença, exclusão, abandono, individualismo, frieza, solidão... sentimentos compartilhados conosco em troca de uma atitude gentil apenas.
Vi também muita alegria gerada com a identificação e com o reconhecimento dessa proposta, que mesmo simples é complexamente instigante e, acima de tudo, acolhedora.

Levei comigo esse aprendizado, o de que uma das maiores necessidades sensíveis do ser humano, desde o momento da sua concepção e durante toda a sua existência, é ser acolhido gentilmente por aqueles que lhe cercam.

Se esse sentir de acolhimento nos traz segurança afetiva frente à vida ou se nos faz acreditar mais nela, não sei... daí já é uma outra história, afinal admitir que precisamos de ilusões boas para viver é gerar uma grande gentileza para nós mesmos.

Parabéns pela idéia e sucesso para você nesse seu partilhar!

bjs

Débora

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Tereza Mello

Oi Adri
Mais gentilesas pra você.
cheiros Tereza

Bibiana Macedo


Oi Adriana!

Segue em anexo a foto do adesivo do gentileza, colado na janela do meu quarto.

bjos!


Regina Veiga

A sinaleira fecha.
Começa uma avalanche de gentileza, as pessoas são pegas de surpresa.
A gentileza chegou assustando.
- "Fotografa o motoqueiro aqui!" (diz o próprio).
- "Consegue um pra mim também!" (diz um carona)
- "Parabéns, muito legal essa iniciativa de vocês!" (diz uma pedestre).
- "Não, NÃO QUERO!" (diz um motorista fechando o vidro do seu carro).
Todos nós estávamos muito envolvidos com tanta gentileza. E ela ia sendo dada a todos, sem escolher a quem, como um presente. O difícil era parar.
- "Os meus acabaram. Quem tem aí pra me dar?"
Acabaram os adesivos. Foi uma hora de overdose de gentileza. Para nós, chegou ao fim. Mas ela, a gentileza, ganhou vida própria, ou melhor, VIDAS. E seguiu em várias direções.

Maria Ester Fontoura

Adri,
não sou muito boa em escrever. Mas a sensação que eu tive foi que a grande maioria das pessoas que receberam os adesivos, gostava daquele gesto de carinho. E as pessoas que estavam entregando, faziam esta entrega com este carinho que alguns, "sensíveis" percibiam.
Pois gentileza é sempre bem-vinda.
beijos
Maria Esteeer

Lara Sosa Dias

Muitas pessoas se fecham no dia-a-dia e se defendem do que vem de fora numa postura indiferente. Mtos nem olhavam pro lado, mto menos abriam a janela..isso pode-se dizer q foi a maioria.Mas tb teve aquelas pessoas q com uma conversa já se abriam e mostravam interesse, davam um sorriso ou pelo menos não se mostravam tão indiferentes.E uma pequena minoria era simpática logo de entrada e achava legal a idéia.Gostei de participar da intervenção..achei produtivo ver as reações das pessoas e tb em entender q nosso mundo atual esta assim. Cada um na sua, individualista e preso na sua bolha, com medo. Nem sempre estamos abertos ao próximo..mas a intervenção foi boa pra rever estes conceitos e nos aproximar, pelo menos um pouco, uns dos outros.
grande bjo!
Lara

Caroline Bauer

Oi, Adriana!
Bem, desculpa a demora em enviar meu relato, mas também estava super envolvida com a redação da tese.
Em primeiro lugar, queria te contar que minha participação foi completamente inesperada da minha parte, em todos os sentidos. O convite partiu do Cristiano Scotta, não lembro exatamente as palavras dele, mas ele já havia me falado sobre teu trabalho e me disse que haveria uma intervenção ao meio-dia de sexta-feira, e me chamou para participar. Mas eu não fazia idéia do que aconteceria. Depois, ao me encontrar com todos vocês na frente do Museu, fiquei um pouco constrangida em participar, pois conhecia pouquíssimas pessoas, e senti-me um pouco intrusa. Aos poucos, esse sentimento foi se dissipando, por uma série de motivos. Eu gosto muito desse contato direto com as pessoas, e foi um pouco disso que me fez escolher a carreira docente. E também militei durante muitos anos no movimento estudantil e, atualmente, junto a organizações de direitos humanos, e já fechamos muitas sinaleiras, ruas, e fizemos protestos por aí para reivindicar muitas coisas que parecer ter sido esquecidas. E gostei muito, demais, de participar da atividade por causa disso: da recuperação desse sentimento de solidariedade, de doação, de proporcionar sorrisso e desacomodações. Desacomodações no sentido de romper o cotidiano dessas pessoas, e não somente pela entrega do adesivo, mas por fazer com que elas se lembrasses do ocorrido, partilhassem isso com suas famílias, e isso fosse uma memória sempre ativada a partir do momento em que olhassem o adesivo. Para mim, foi uma experiência riquíssima, um contágio de felicidade. Eu gosto muito desse ato de desprendimento, de poder ofertar algo para as outras pessoas, e o fato de ser um singelo adesivo escrito "gentileza gera gentileza", uma necessidade desse novo século, me deixou ainda mais feliz. Fora que a atividade proporcinou-me estar em contato com pessoas maravilhosas, espíritos felizes, que irradiavam isso nas brincadeiras, nas situações criadas, nas falas, etc.
Acredito que o fato que me pareceu mais curioso foi quando entreguei um adesivo para uma viatura policial. Achei bastante significativo no sentido de que temos uma história de violência imbricada na sociedade brasileira, de forma que se conformou um autoritarismo que hoje é dado como natural, e se traduz em expressões como "... e tem que matar, mesmo". Gentileza não custa nada, como foi demonstrado naquela sexta-feira, e é bom ofertar e receber!

Fora isso, Adriana, queria te agradecer, novamente e imensamente a oportunidade de participar dessa atividade. Me fez um bem enorme. E fico muito feliz de poder contribuir para teu trabalho, também. Tu me pareces uma pessoa maravilhosa, e irradias isso todo o tempo.

Um beijo e um forte abraço!
Conta sempre comigo para mais e mais gentileza.
Estou levando um dos teus adesivos para Barcelona, aonde morarei a partir de julho do ano que vem.
Sei que talvez esse prazo não coincida com teu trabalho, mas estarás ao lado de Gaudí e pertinho do Dalí.
Mais uma vez, um abração!
Carol

Mima Gomes

Sobre o adesivo gentileza....tive uma surpresa ao ir no protocolo da Fepam hoje de manhã e encontrar o adesivo num computador de uma atendente, virado para o lado do público....tive que sorrir, pois pra mim foi realmente inusitado encontrar ali... e em anexo te mando a foto do lugar onde coloquei o adesivo que me destes em Curitiba: na bombona de água do IQA, para todos os nossos colaboradores não esquecerem que gentileza gera gentileza....
bjs
mima

Fernanda Barroso

O dia de distribuir Gentileza.

Fui sem muita expectativa, nem do que ia acontencer, nem do que ia fazer de fato.

Achei que ia só observar a movimentação e acabei participando ativamente. Meio sem jeito, meio sem saber direito como proceder, como abordar as pessoas. Sorriso no rosto e adesivo na mão e foi assim. Distribuindo gentileza para os motoristas (e passageiros), às vezes, para quem passava também.

Diferente participar de uma ação artística fora de um espaço de galeria. Ali era a rua, a rotina, o dia-a-dia. O trabalho da Adri foi abraçado pelo contexto físico, pela empolagação de cada um que vestiu a camisa e participou da distribuição e por quem recebia o adesivo. Talvez, muitos que receberam sequer desconfiam que tudo aquilo era parte de uma ação artística. Talvez, naquele momento, fizesse mais sentido pensar em alguma campanha de cunho social. Pouco importa! O trabalho seguiu em frente, de artista para público, de público participativo para público em trânsito, sem mistério e sem barreira. A mensagem foi adiante, de mão para mão.
Gentil e muito alegremente, fui parte disso!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Adriana Dorfman

Oi Adriana
Coloquei uma foto pro blog. É o lado do meu armário no colégio.
Abração!
Adriana

Mariana Wertheimer

Experiência Gentileza

Tenho um grande fascínio pelas experiências novas e distribuir adesivos na sinaleira, em plena rua Oswaldo Aranha, foi muito bom para mim. Quanto mais velha vou ficando mais difícil é de ter contato com o novo, quando isto acontece parece que viajo um pouco no tempo e lembro da juventude onde tudo era descoberta. Gostei muito e para completar, a energia de sermos muitos e, todos fazendo o mesmo fortificou a experiência.

Estávamos todos dando, distribuindo um adesivo que tinha escrito Gentileza, era como se estivéssemos dando gentileza. Naquele momento o trabalho da Adriana Daccache se expandiu mais ainda e passou a ser de todos que estávamos lá distribuindo.
Depois do primeiro momento de colocar a camiseta e experimentar a sensação do momento novo comecei a perceber a reação e as emoções de quem estava distribuindo junto e dos motoristas que recebiam. As pessoas que distribuíam, fotografavam e seguravam a faixa estavam todas contentes e unidas compactuadas com o mesmo objetivo. Sempre que nos entreolhávamos trocávamos sorrisos, durante os pequenos períodos, quando a sinaleira estava aberta, se trocavam rapidamente as experiências foi como um “laboratório” de reações humanas.

Mais do que ajudar uma amiga ou conhecida, estavam todos ali para tentar dizer coisa a muitos desconhecidos –“Gentileza Gera Gentileza”, ou - Vamos tentar fazer um mundo melhor?

Por último e talvez a coisa mais importante, foi o contato com os motoristas aos quais distribuíamos os adesivos. Tinham as mais diferentes reações. Umas pessoas super simpáticas, que me deixavam extremamente contente, outras, agressivas que me deixavam incomodada, chateada, ou mesmo com raiva. Achei impressionante, muitos não queriam aceitar, pois estavam imaginando que íamos pedir algo. Coloquei-me no lado dos motoristas fiquei imaginando se não ficaria também, muito cabreira. Afinal o que mais tem em sinaleiras são pessoas pedindo...
Bom, não fiquei muito tempo, mas no final me senti cansada e com fome, cheia de vontade de comer uma boa refeição descansadamente.