quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Débora Balzan Fleck

Querida Adri,

participar do teu projeto também trouxe-me uma imensa alegria! Fico muito feliz em compartilhar desse seu momento tão especial e sensível!

Os fatos provaram (papo de advogado falacioso...), mais uma vez, a lógica de que gentileza atrai gentileza (na maioria das vezes, lógico, afinal toda regra tem exceção)! A prova disso é que conseguiste reunir muitas pessoas muito especiais ao teu redor e ao redor dessa idéia maravilhosa!

Ainda que as exceções marquem mais a nossa memória, jamais esquecerei dessa experiência, que foi única para mim. Sem falar que foi uma ótima motivação para a superação de algumas fobias públicas que tenho em relação ao trânsito e a transeuntes indispostos e intolerantes com a vida e com os seres humanos. Marcou-me, obviamente, aquelas reações mais inesperadas do público frente às gentilezas oferecidas.

Como a abordagem foi praticamente a mesma por todos que estavam ali (e ninguém tinha cara ou postura de "bandido perverso", muito menos de "pedinte oportunista"), a reflexão sobre as reações inusitadas dos que transitavam pelo local tornou-se inevitável.
Realmente, tentar encontrar regras para explicar determinados comportamentos humanos é demasiado desafiador.

Acompanhar a reação da mocinha medrosa diante da proposta, com os vidros completamente herméticos do seu carrinho popular, e até a da madame desligada, com as janelas abertas, por onde escapava o maior pagodão, do seu carrão importado, foi algo surpreendente. Acredito que elas mesmas surpreenderam-se com a oferta da gentileza (e ainda por cima "de grátis!")
O carroceiro, que provavelmente não sabia ler, chegou até a soltar as rédeas do seu sofrido condutor para tentar decifrar aquele enigma junto com o seu co-piloto.

O motorista de ônibus buzinou sem parar, elogiando a iniciativa (será que pensou que éramos uma ong?), enquanto os passageiros se esgueiravam pela janela para capturar mais uma gentileza.

Até o carro forte blindado desamarrou a sua carranca de "caveirão" e aderiu à proposta! Ficou bonitão e sorridente!

O policial civil, embora não deixando escapar sequer uma expressão sentimental do canto do seu bigode, aceitou a gentileza e guardou-a para utilizar em um momento mais oportuno, quem sabe... (seria bem legal se ele colasse no painel da viatura e lesse aquilo toda a vez que recebesse uma notícia pelo rádio da polícia!)

Teve até gente que acenou, gritou, pedindo por favor para ganhar uma gentileza!
Vi de perto muito medo, indiferença, exclusão, abandono, individualismo, frieza, solidão... sentimentos compartilhados conosco em troca de uma atitude gentil apenas.
Vi também muita alegria gerada com a identificação e com o reconhecimento dessa proposta, que mesmo simples é complexamente instigante e, acima de tudo, acolhedora.

Levei comigo esse aprendizado, o de que uma das maiores necessidades sensíveis do ser humano, desde o momento da sua concepção e durante toda a sua existência, é ser acolhido gentilmente por aqueles que lhe cercam.

Se esse sentir de acolhimento nos traz segurança afetiva frente à vida ou se nos faz acreditar mais nela, não sei... daí já é uma outra história, afinal admitir que precisamos de ilusões boas para viver é gerar uma grande gentileza para nós mesmos.

Parabéns pela idéia e sucesso para você nesse seu partilhar!

bjs

Débora

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